Ainda há a voz das ruas!

 Hoje o dia amanheceu mais calmo, a tarde caiu sem maiores espantos… a nossa grande nação começa a sentir arrefecer a fúria dos protestos que tomaram tanto a nossa atenção, e para alguns até tempo, nos últimos meses.

 Já é palpável o esquecimento que começa a encobrir os desdobramentos históricos dos eventos que começaram nos fins de abril e início de março, quando turbas de manifestantes, sobretudo jovens, tomaram conta das ruas fazendo pressão contra o aumento do transporte urbano.

 De fato, a mídia já ocupou seu espaço com notícias mais frescas como crimes de grande visibilidade entre outras que servem bem como cortina de fumaça.

 No entanto é possível observar que, se por um lado a grande mídia não dá atenção, mesmo assim continuam a brotar novos movimentos e reivindicações em diversos setores do país, como o grupo que exige a “CPI dos ônibus” no Rio, o protesto dos servidores da EPTC, o movimento que exige o “passe livre” em Porto Alegre, o protesto dos grupos indígenas exigindo demarcação de terras em Brasília, só para citar os mais recentes.

 Ficou claro que há um grupo novo de idéias e pessoas, de jovens formadores de opinião, que decidiram se libertar do autismo político que vinha afligindo a geração anterior, que trocaram a metanfetamina da balada pela pura adrenalina de suas próprias suprarrenais: se põem entre a multidão de desconhecidos e a tropa de choque, defendem o estranho companheiro até da pimenta e do cassetete, experimentam a legítima socialização defendendo um ideal nobre em grupo, em comunhão com colegas de causa superando quaisquer diferenças étnicas ou sociais neste instante, experimentando um amor fraternal infinitamente mais sincero que o sentimento oferecido pela insípida relação em meios virtuais.

 Pode ser que a mídia não se interesse mais em divulgar, mas ainda assim a voz das ruas insiste em falar: ela não quer notoriedade, quer resultados!

 A mídia ainda acaba prestando um desserviço quando põe em dúvida a relevância, a legitimidade, a objetividade dos movimentos. Pode até ser que alguns grupos não estejam totalmente entregues ao interesse comum, apenas se aproveitando das manifestações para extravasar seus sentimentos, mas mesmo assim gozam dos inestimáveis benefícios do contato humano, essencial para formar homens de caráter, de sabedoria, de vigor moral, de capacidade de agir, de enfrentar obstáculos, diferentemente da “geração de bananas” que a informática nos oferece.

 Por isso, ainda ouso dizer – não se cale Voz das Ruas: nem que não te acreditem,

– Não se cale Voz das Ruas: mesmo que duvidem da sua força, mesmo que te esqueçam,

– Não se cale Voz das Ruas: mesmo que desacreditem a intenção do seu pleito, mesmo que se deturpe sua face, mesmo que desejem te calar, que desejem te manipular, mesmo que a anarquia e a desordem suplantem a civilidade dos seus atos: se não forem ouvidos pela razão, que sejam pelo fogo e pelas pedras, se teu pleito não se fizer ouvir pelos gritos de ordem, que o sejam pela força: vai pra rua, Jovem, toma o poder em tuas mãos, não se permita domesticar pelo gozo fútil que o mundo te oferece nem pelo egoísmo do consumo.

Ainda haverá uma esperança enquanto houver uma Voz das Ruas.

Por: Rafael Marçola