Velhos problemas, Eternas Ilusões.

 Depois do chamado “movimento passe livre” ter ganhado as ruas e a ideologia do “Anonymous” ter ampliado grandemente sua visibilidade através de sua participação nos protestos que marcaram o ano passado, a sociedade passou a discutir mais e mais os problemas relativos à administração pública no Brasil.

 A internet, especialmente através do Facebook, tornou-se palco de fervorosas discussões ideológicas. Uns defendem partidos políticos, outros defendem idéias marxistas, outros pregam uma improvável anarquia, o fato é que o povo sentiu-se mais próximo das questões políticas depois de todo o barulho gerado pelos passos do gigante, e a internet é um excelente termômetro para se perceber isso, pois apesar da hipocrisia natural presente nessa mídia, as pessoas se sentem mais à vontade para expressar suas verdadeiras opiniões.

 Chamou-me a atenção um post de grande divulgação: havia uma foto do General Ernesto Geisel, o ex-presidente militar do Brasil que deu início à abertura do regime para a redemocratização. Abaixo, um texto atribuído à ele que dizia que “ele iniciaria o processo que levaria à redemocratização e eleições diretas, mas que um dia o povo sentiria falta do regime militar, pois os que ora lutavam pela democracia, no futuro iriam tentar permanecer no poder a qualquer custo”.

 Uma quantidade expressiva de compartilhamentos e comentários favoráveis à extinta ditadura militar foi uma outra surpresa.

 Um post dessa natureza evidencia um grave defeito de caráter que é comum no Brasil: o imediatismo: Brasileiros de memória curta e pouca instrução acreditam que o regime militar foi uma maravilha de desenvolvimento e honestidade. Mas a história mostra que durante o regime houve mesmo um amplo crescimento de investimentos em infraestrutura, mas acompanhado de desvio de verbas, enriquecimento ilícito, endividamento público além do completo desprezo pelas políticas sociais.

 Acreditar que a volta da ditadura poderia trazer o tão sonhado desenvolvimento ao país é tão ilusório quanto acreditar que a volta da censura poderia evitar os abusos da tv e internet de hoje: não podemos nos deixar enganar, pensando que soluções mágicas resolverão os nós da nação. Não é mudando de regime ou de constituição que poderemos avançar, mas fazendo com que tudo o que temos funcione de forma organizada, produtiva e racional.

 Possuímos as leis, os órgãos, os recursos, os meios para construir uma nação forte, o que nos falta são recursos humanos para fazer isso acontecer.

 Acredito sinceramente que será por meios democráticos que, um dia, essa pátria se erguerá como uma terra de igualdade e esperança, mas o caminho até lá há de ser penoso: só o sofrimento da desigualdade e da miséria (saldo do nosso próprio pecado cultural) poderá purificar a nação ao longo do tempo, fazendo surgir um dia uma geração intolerante à corrupção, que tome para sí os nossos velhos problemas e ponha de uma vez por todas em desuso nossas tolas ilusões.