Vai Na Fé, Renatinho!

Sobre o Brasil: o país do rolezinho.

Segue firme rumo ao progresso nossa ordeira Pátria, afirmam os otimistas partidários do modelo de governo que hoje vigora, crentes que estamos prestes a vivenciar um fabuloso “boom” de crescimento que culminará no apogeu da glória nacional. É claro que eles não se incomodam que essas previsões não se amparem em números reais ou que os investidores internacionais não as levem muito a sério, o que cada vez mais assusta e afugenta seus preciosos dólares da nossa querida Terra de Santa Cruz.

Permanece quase inabalável a convicção de que “estamos por cima da carne seca” para o que parece ser uma maioria de nossos compatriotas, que não se deixam abalar pelas constantes cenas de violência nas ruas, roubos, ações organizadas de vandalismo e destruição orquestrados por lideranças do crime organizado – que há tempos se mostram bem mais organizados que as nossas lideranças políticas.

Mas os otimistas persistem confiantes, inebriados pelo ópio da oferta de crédito que tem sido há muitos anos a moeda de troca do governo para conquistar a confiança do povo manobrável que compõe o grosso do eleitorado nacional. Oferta de crédito essa que já chega a 24% da renda do Brasil, o que por sí só já gera inseguranças, lembrem-se que em 2008 os EUA entraram em crise com apenas 14% de dívida, segundo o Financial Time.

O descaso na saúde, o caos prisional, a corrupção na política, a defasagem no ensino, a persistência da fome, a droga tomando conta das ruas, a infra- estrutura caquética, a carga tributária, o preço do combustível, os sofríveis serviços públicos… nem mesmo isso abala a fé de aço do brasileiro otimista, salvo algumas insurreições tópicas e outras mais abrangentes como aquelas contra a tarifa do ônibus, até aparecem de vez em quando, lembram? Mas já foi: a passagem caiu e o combustível subiu, ficou no zero a zero.

Somente uma coisa enerva o combativo Otimista brasileiro: que se proíbam os rolezinhos nos shoppings.

Já se espalham pelo país protestos e manifestações de apoio aos rolezinhos. Renomados psicólogos e cientistas sociais (que não vão no shopping em dia de rolezinho) afirmam que os mesmos representam uma revolução cultural e política que visa a inserção de periféricos na sociedade dita “burguesa”.

Quem teve a infelicidade de assistir ao desinformante noticioso “Fantástico” no último domingo (19/01) pôde fazer uma avaliação do tipo de jovem que esperamos que dêem continuidade na construção desse País: gente de situação financeira estável, casinha mobiliada à prestação de casas Bahia, egos inflados pela pseudo-popularidade da internet, interesses avessos à causa do próximo, quanto mais do País: querem mesmo é saber de roupa cara e dançar funk (que James Brown me perdoe).

Vejam por exemplo o Renatinho, que na reportagem afirmou estar em dúvida se iria ser cientista ou MC quando crescesse. Vai fundo Renatinho! Abandona esse negócio de cientista que isso não dá futuro pra ninguém! O mundo já tem muito cientista: se a gente precisar de algum remédio, deixa que os gringos inventam! Seja MC: espalhe a libidinosa alegria que permeia as festinhas cheias de sexo torpe regado a drogas e álcool. Cante o canto impudico e alienado que entorpece a mente rasa dessa gente explorada mas feliz. Vai na fé, Renatinho, mostra o que o Brasil tem de melhor.

Por: Rafael Marçola

Renatinho, Foto: Rede Globo

Renatinho, Foto: Rede Globo