O horror.

Foi hoje, segunda – feira pela manhã que recebi com legítimo asco a notícia do crime cometido por um menor de idade num ônibus coletivo carioca no último dia 3. Ele entrou no ônibus, passou a catraca e anunciou um assalto. Depois rendeu os passageiros no fundo do ônibus e pulou de volta a catraca onde escolheu uma mulher a quem estuprou diante dos passageiros, sob a mira do revólver.

No primeiro momento a notícia penetrou minha mente sem pressa: talvez me recusasse a compreender o tamanho da barbárie de imediato.

Depois … depois não havia mais como fugir, eu ouvira todos os fatos, já os tinha dentro de mim.

E depois o horror.

Fiquei um tempo atônito, apenas pensando esta palavra: horror. Não podia descrever o que acabara de ouvir. Me soava irreal, fantástico, impossível.

Quis poder ser amigo daquela pobre mulher, quis poder abraça – la, demonstrar solidariedade  de alguma forma.

Quis poder estar com ela quando fosse explicar ao seu filho de dez anos de idade o que aconteceu, para poder acalmá – lo, consolá – lo.

Quis ao menos conseguir derramar uma lágrima em reconhecimento à indizível humilhação dessa mulher – mãe de um menino de dez anos – que, além de sofrer a maior das violências ainda teve de enfrentar o olhar de uma plateia impotente.

Sentí – me culpado por não saber mais chorar e penitenciei – me imaginando um familiar meu na mesma situação, mãe, esposa ,filha, sendo deflorada  diante de um ônibus e uma câmera, temendo o coito imundo, sentindo – se um lixo, um objeto sem valor, com uma arma na boca apenas desejando continuar viva para poder acabar de criar seu filho.

Por um momento passei a relativizar tudo o que sempre acreditei : valores de moralidade, senso de justiça : esse ser horrendo capaz de cometer tal brutalidade com toda frieza não poderia ser produto de Deus. Possuir identificação com o pai celeste como cada um de nós, não poderia ser digno de perdão: o preço de seu crime deveria ser seu próprio sangue .

“ -Maldito seja !”, praguejei, “-Demônio, maldito seja para sempre !” continuei.

Depois senti – me estranho, sujo, fraco, pesado…gostaria de ser tão magnânimo ao ponto de poder entender… perdoar o crime desse ser. Mas olho  a imagem divulgada na imprensa e não reconheço um semelhante, um homem: vejo só um ser. Um bicho perigoso. Uma criatura feroz, um ser terrível.

Um maldito.

Um proscrito.

Um devasso…

Espero apenas que essa pobre mulher e seu filho de dez anos continuem a caminhada.

Que ela não esmoreça no caminho. Que creia que há um Deus acima das nuvens, que há recompensa para quem é do bem.

Que ela tenha sempre perseverança, que o fardo de viver neste mundo não se lhe torne insustentável.

Por: Rafael Marçola