Douglas e a monotonia.

 Já faz algum tempo que as cucas maravilhosas desse país vêm encubando a idéia de que a solução para um desenvolvimento sólido e duradouro deve ter como esteio a educação, sendo até mesmo os investimentos em infra-estrutura de importância secundária, apesar destes apresentarem resultados visíveis muito mais rápido que aqueles.

 Se levarmos em consideração que pelo menos um terço da população brasileira está concentrada no Nordeste e que alguns dos municípios mais pobres do Brasil estão por lá, podemos concluir que esta região em especial urge por propostas que atendam as necessidades de alcançar um desenvolvimento econômico e social perene, que destrua o abismo que separa esta sofrida terra de outros Estados da Federação muito mais avançados.

 Em 2009 o então Ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger apresentou um interessante projeto nesse sentido, onde afirmava que uma solução prática para emplacar o crescimento da região nordeste com foco no desenvolvimento educacional é de importância nacional, não regional, uma vez que o fortalecimento dessa região e de seus próprios potenciais poderia além de sanar as questões sociais intrínsecas, trazer um novo empuxo econômico para a nação. Chama a atenção no projeto a idéia de oferecer um “choque científico e tecnológico” à região, isto é: oferecer ensino de grande qualidade a toda a população, ampliar escolas técnicas, enfim, elevar imensamente o número de formandos e depois conseguir colocação para essa mão de obra mais preparada na própria região, através de parcerias com empresas.

 Essas idéias ainda não saíram do papel, e de vez em quando um sociólogo sonhador aparece repetindo essa cartilha repetida de “revolução educacional versus assistencialismo e obras contra a seca” como se fosse um gênio fantástico fazendo uma observação inédita.

 Daí meu pensamento volta para o sudeste.

 Hoje eu passava diante da banca das batatas no setor de legumes do supermercado e me detive por um instante a observar um jovem que acompanhava a mãe, carregando-lhe a cesta cheia de legumes: o cidadão vestia uma dessas camisetas que costumam fazer os formandos do ensino médio, com os nomes dos amigos todos nas costas e na frente uma frase de efeito definida democraticamente pelos componentes da classe, além do nome da escola.

 Chamou-me a atenção a frase: “três anos de monotonia”.

 Tudo o que o Douglas (resolví dar esse nome ao rapaz) e seus amigos tinham a dizer sobre o caminho que acabavam de trilhar: do primeiro ao terceiro colegial, após receberem a porção final de conhecimento que o Estado tinha para lhes oferecer, era isso. Tinha sido apenas monótono, simplesmente isso.

 Todo o esforço e empenho de ambos os lados, estudantes e corpo docente, toda a estrutura e organização envolvidos, nada cativara a atenção de Douglas, nada despertara seu interesse, nada reteve para sí, apenas foi monótono.

 É culpa dos professores? Do governo? Dos alunos? Quem pode nos dizer? Mas a brilhante frase na camiseta de Douglas sugere um prognóstico sombrio: é essa educação que ofereceremos aos estados carentes do nordeste e consertaremos o País?

 Acho que a seca já é monótona o bastante.

 Por Rafael Marçola