A Consciência Inconsciente

 No dia 20 de Novembro é celebrado no Brasil o Dia da Consciência Negra, sendo feriado em algumas unidades da federação.

 A data, idealizada no início dos anos 70 pelo pesquisador gaúcho Oliveira Silveira, comemora a tomada de consciência da comunidade negra do seu valor na sociedade. Essa data teria sido escolhida por se tratar da data provável da morte de Zumbí dos palmares, o grande líder do quilombo dos palmares e símbolo da resistência à escravidão, em 1695.

 Dessa forma, os cidadãos dessa terra discutem nessa época as dificuldades da inserção do negro nos diversos setores da sociedade e a resistência dessa sociedade à presença do negro.

 Desde o início da semana tem havido abrangente cobertura da mídia, que aborda a causa negra sob seus variados aspectos –  cultural, social – expondo aos nossos olhos os séculos de cultura que, desde a África até o Brasil, carregam a vasta bagagem da tradição e do sofrimento.

 O memorável Oliveira Silveira, quando da concepção dessa data comemorativa, tencionava dar visibilidade à um povo que era – e ainda é – preterido na sociedade em diversas ocasiões.  Acreditava que fazer memória ao Rei Zumbí poderia tornar coesa a comunidade negra, como de certa forma o fez, pois diversos movimentos sociais e organizações afro surgiram impulsionados pelo trabalho de Oliveira depois dos anos setenta.

 O tempo passou, a nossa sociedade passou por um processo de amadurecimento – que ainda é incipiente, mas existe – mas parece que as reivindicações da sociedade negra oprimida não mudou… mas podemos dizer que há uma sociedade negra?

 Pela primeira vez, o censo do IBGE aponta que mais de 50 por cento da população brasileira é “parda” ou “negra”, portanto, o conceito de “sociedade negra” com uma conotação de minoria não pode mais ser considerada uma realidade, por isso, não seria válido imaginar que talvez o problema da discriminação racial no Brasil tenha sido sobrepujado pela exclusão social? Não é uma questão de dizer que esse problema é maior que aquele, só gostaria de convidar o leitor à pensar: não se vive na sociedade comum hoje, uma escravidão nos moldes do século XVI, institucionalizada, brutal e étnica, mas uma escravidão velada e muito mais abrangente: discrimina o negro, mas também o pobre, o nordestino, o estrangeiro, o indígena, o trabalhador de pouca renda, de pouco poder e influência.

 É uma forma de escravidão dinamizada: hoje nosso grilhão pode ser nossa própria vaidade, nosso desejo de sermos exclusivos, nossa inconsciência para os interesses do próximo. Um exemplo? Amanhã será o dia da consciência Negra, mas hoje, dia 19 de Novembro, é o Dia da Bandeira, que pouco se fez notar na mídia!

É provável que jamais seja possível alcançarmos um ideal de fraternidade social nessa terra enquanto nossas lutas sejam num empenho por um único setor, seja negro, branco ou o que for!

Oxalá antes de desejarmos ser distinguidos dentro da pátria pela cor da nossa pele, desejássemos ser distinguidos dentro do mundo pelas cores de nossa bandeira…

Cito Martin Luther King: ” Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.”

 Por Rafael Marçola