O Toque Surdo Da Trombeta.

Tragédias, catástrofes aéreas, guerra, desastres naturais e cada vez mais a humanidade se mostra impotente diante dos poderes da natureza e da própria tendência autodestrutiva que, ao que parece, nos leva pouco a pouco na direção de um cataclismo.

 Ficamos, por vezes, alarmados diante das notícias tenebrosas que nos são oferecidas pelos noticiários, imaginando talvez que toda a sorte de acontecimentos terríveis que têm assolado o planeta especialmente esse ano possam ser algum tipo de sinal apocalíptico, indício funesto do futuro breve da humanidade.

 Ao menos enquanto se lê ou assiste ao jornal o pressentimento ruim permanece, depois, com o decorrer do dia, ele vai abrandando, abrandando, até quase desaparecer, não é mesmo? Afinal, moramos no Brasil, aqui não tem terremoto, não tem tsunami, cai um aviãozinho aqui outro acolá bem de vez em quando, não sabemos o que é guerra faz muito tempo, enfim: apesar dos pesares, as coisas até que “vão indo bem” por aqui, as trombetas do apocalipse se calam no País de todos.

 O parágrafo precedente relata a tola sensação de segurança que muitos de nós podemos sentir por não nos darmos conta de situações que ocorrem ao nosso redor, mas por estarem adaptadas à nossa realidade parecem pouco perigosas.

 O leitor, caso seja de Capivarí, onde resido, poderá observar com pouca argúcia uma dessas situações que apesar de serem comuns, recorrentes e disseminadas por toda a cidade, passam “despercebidas” pela sociedade que deseja mais “sentir-se” segura do que sê-lo de verdade.

 Me refiro ao tráfico de drogas!

 Enquanto o cidadão da Terra dos Poetas se desloca em direção ao trabalho para merecer o pão de cada dia e o carnê de prestações com o qual adquirirá seus preciosos bens, essa escória da sociedade está por toda a parte na sua tarefa infame de oferecer a semente da miséria às pessoas de mente frágil.

 Não se restringem aos becos: estão onde quer que se possa imaginar. Aliás, caso o leitor precise ir à um velório de um conhecido por aqui, lhe será oferecido um duplo serviço no estacionamento: o cidadão que olha seu carro também vende cocaína, tá tudo no bolso, perfeito para um flagrante, mas a polícia e a GM com seus equipamentos novinhos ainda não pegaram essa turma. Mas não tem problema, eles estarão lá a semana inteira.

 Ou senão, caso o leitor esteja fazendo compras, e decida fazer uma “festinha” mais animada, no estacionamento do supermercado há uma menor de idade que vende drogas também!

 Basta ver o moço de moletom de touca, sentado no chão ou meio fio, de olhar desconfiado, e lá está o produto, não é preconceito não, cidadão, observe, na frente da sua casa, no bar da esquina, em locais públicos, em bairros inteiros! Eles estão lá, semeando o furto, a violência, a desordem, a morte.

 É o toque surdo da última trombeta, é tão mais temerária que a guerra e as tragédias de telejornal, é a tragédia discreta, velada de cada vida destruída, cada família.

 Família a família, até chegar na sua também.

Por Rafael Marçola